Origens da Teoria da Burocracia
A burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos.
Max Weber (1864-1920), sociólogo
alemão, foi o criador da Sociologia da Burocracia. Seu principal livro, para o
propósito deste estudo, é “A Ética Protestante e o Espírito de Capitalismo”. Max Weber afirma que o moderno
sistema de produção, eminentemente racional e capitalista se originou da “ética
protestante”: o trabalho árduo e o ascetismo proporcionando a poupança e
reaplicação das rendas excedentes, em vez de seu dispêndio para o consumo.
A teoria da burocracia de Max Weber
Reinaldo Dias. Sociologia das
Organizações.
São Paulo: Editora Atlas, 2008. p.78 e 79
O trabalho do sociólogo alemão
representa uma das principais contribuições da sociologia à administração,
contribuindo para estabelecer a ligação das empresas com a sociedade. O termo burocracia empregado por Weber é
utilizado para descrever um modelo organizacional ideal, eficiente em termos
administrativos, e não no sentido pejorativo comumente utilizado hoje. Para
Weber o fundamento da burocracia seria a legitimidade da autoridade legal e não
o tipo predominante até então baseado na tradição ou no carisma. A autoridade
burocrática teria como vantagem as pessoas serem escolhidas para suas funções
ou cargos pela sua competência, apresentarem um grau de autoridade e
legitimidade bem definido e disporem de meios legais para exercer essa
autoridade. Para Weber os demais tipos de autoridade não gozariam de
estabilidade e nem de eficiência.
Assim, Weber transformou o
conceito clássico de autoridade de origem divina em um tipo legal, no qual a
autoridade emana de um conjunto de regras instituídas pelos grupos sociais. Com
o decorrer do tempo, estas regras acabam formalizando-se em normas legais que
deverão determinar a base de convivência social, política, econômica etc.
O modelo weberiano é rígido.
Estuda de modo objetivo e racional a estrutura assim formada, na qual a
autoridade está determinada pelos postos de trabalho e não pelas pessoas.
A burocracia não era, para Weber
uma ideia pejorativa, mas um estado ideal cujo principal objetivo é a
eficiência e, através dela, a diminuição dos conflitos nos grupos sociais.
Baseado em Weber (1991, p.
142-147):
Assim, a principal
característica das organizações formais é a sua estrutura burocrática,
identificada principalmente por Max Weber em seus trabalhos e que consiste
fundamentalmente nos seguintes aspectos:
1. As funções são exercidas de
forma continuada, vinculada a determinadas regras.
2. As posições são ocupadas com
responsabilidades claramente definidas. Regras específicas são aplicadas para
todos aqueles que são membros e ocupam determinadas posições.
3. As posições são organizadas em
forma hierárquica. Cada posição na organização é definida em termos de outras posições.
Os direitos e responsabilidades dos superiores e dos subordinados estão
circunscritos pelas suas posições no sistema e pelas regras estabelecidas.
4. Regras. Há regras para a
realização de cada tarefa individual. Há também regras determinando os caminhos
nos quais as tarefas individuais são integradas. Essas regras são formais,
invariáveis, específicas, e de modo geral são escritas. Elas servem como
estrutura formal altamente especializada, que configuram a organização como um
sistema social de trabalho.
5. Impessoalidade e
imparcialidade. Os membros entram e saem. Após a partida, seus lugares são
ocupados por outros que são funcionalmente equivalentes. O tempo de duração da
burocracia pode ser de centenas de anos, embora o tempo de serviço de seus
membros possa ser muito curto.
6. Carreira ascendente. Posições
existentes nas organizações que são idealizadas, pelas pessoas cujas
qualificações e desempenhos passados deixam entrever uma expectativa razoável
de sucesso no cumprimento das tarefas associadas àquelas posições.
7. Normas de eficiência. Cada
atitude é julgada pela sua eficiência na realização de um objetivo particular.
O desempenho é julgado pelos resultados obtidos.
8. Os membros são submetidos a um
sistema rigoroso e homogêneo de disciplina e controle do serviço.
9. As pessoas, que integram a
burocracia, são pessoalmente livres; obedecem somente às obrigações objetivas
de seu cargo.
Weber considerava que num Estado
moderno “necessária e inevitavelmente a burocracia realmente governa, pois o
poder não é exercido por discursos parlamentares nem por proclamações
monárquicas, mas através da rotina da administração”. São os funcionários civis
que “tomam as decisões sobre todos os nossos problemas e necessidades diários”.
Para Weber, em qualquer burocracia, quem realmente governa é a burocracia, que
detém o conhecimento da rotina da administração. Weber (1974, p. 22).
WEBER – BUROCRACIA
CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de.
Sociologia Aplicada à Administração.
São Paulo: Editora Atlas, 2002, p.122, 123 e 124.
O idealtipo elaborado por Max Weber
referente à burocracia forneceu uma base para as reformulações contemporâneas
da análise da organização, embora a maior das teorias da organização não tenha
como ponto de partida aquele idealtipo.
Weber analisou a burocracia na obra
Wirtschaft und Gesellschaft (Economia
e Sociedade), os números entre parênteses referem-se a páginas (para consulta)
da tradução: Economíay sociedad. 2.
ed. México: Fondo de Cultura Económica,
1974, destacando as seguintes características:
1. Princípio das atribuições oficiais. Compreende alto grau de
especialização e uma bem definida divisão do trabalho entre funcionários. As
atribuições são estabelecidas e ordenadas por meio de normas e regulamentos. Há
uma distribuição das atividades — consideradas como deveres oficiais —
necessárias para atingir os fins da organização. Os poderes de mando
necessários para o cumprimento desses deveres encontram-se igualmente
determinados. Estão bem delimitados por normas os meios de coerção que lhes são
atribuídos. Para cumprimento dos deveres e exercício dos direitos
correspondentes tornam-se necessárias (p. 716).
2. Princípio da hierarquia funcional. É um sistema racionalmente
organizado de mando e subordinação, mediante um controle dos inferiores pelos
superiores. Esse sistema oferece ao funcionário a possibilidade de apelar de
uma decisão do chefe imediato a um superior. Quando em pleno desenvolvimento,
esse tipo de organização tende a uma forma monocrática (p. 717).
3. Uniformidade na organização das tarefas. A
administração baseia-se num conjunto específico de regras para a tomada de
decisões. A administração utiliza-se de documentos escritos e de um corpo de
funcionários. Os funcionários sob as ordens de um chefe — juntamente com seus
arquivos e documentos — constituem uma repartição pública ou um escritório
particular. Existe estrita separação entre negócios oficiais e negócios
pessoais (p. 717).
4. Formação profissional. A atividade burocrática exige uma
formação profissional consciente. O recrutamento de funcionários efetiva-se com
base no conhecimento técnico e perícia, estabelecendo-se um plano de carreira
(p. 717).
5. Eficiência dos funcionários. A organização exige eficiência dos
funcionários, estando determinado também o tempo que eles estão obrigados a
permanecer no local de trabalho cumprindo com os deveres (p. 718).
6. Normas gerais determinadas e
completas regem o desempenho das atividades dos funcionários (p. 718).
Essas características, que não são
necessariamente encontradas em todas as organizações, fazem da burocracia o
mais eficiente método para realização de importantes tarefas coordenadas e
realizadas.
As ideias de Weber têm sido
criticadas por ser consideradas incompletas ou devido a novas formulações de
idealtipo, conforme sintetizamos no Quadro a seguir:
Resumo das críticas
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Autores
|
1. Da comparação do funcionamento da organização com a burocracia
definida por Weber chega-se à conclusão de que ela é incompleta e inadequada.
2. O ritualismo: a cristalização dos papéis pode obstruir os canais
burocráticos de ação.
|
Peter Blau, Robert K. Merton,
Reinhard N. Bendix.
|
1. Efetuando análise das características burocráticas das
organizações do trabalho, surgem novos idealtipos que não coincidem com os de
Weber.
2. Uma liderança inadequada leva à ineficiência e ao conflito.
|
Alvin W. Gouldner, Michel
Crozier, Hans Gerth.
|
Quadro Burocracia — críticas a Max Weber.
A oportunidade enseja-nos
esclarecer a confusão de que é alvo Max Weber por parte de diversos autores não
afeitos a sua terminologia. Assim, muitos confundem o idealtipo weberiano com o
que vulgarmente denomina-se de tipo ideal. O tipo ideal vulgarmente considerado
é o que serve de referencial inatingível, estabelecido como o máximo da
expectativa sonhada. Nesse sentido, tanto individual como em grupo estabelecemos
um ideal para nossas vidas. O idealtipo é um modelo teórico não encontrado na
realidade que constitui recurso metodológico. Com base na realidade concreta,
tomamos todos os elementos que se referem a determinado fenômeno que
pretendemos estudar e elaboramos um quadro referencial.
“Compreende a síntese de
fenômenos individuais concretos, isolados e difusos, compondo um conceito
unificado” (Castro, 2000, p. 351).
Quanto à tendência à expansão da
burocracia, C. Northcote Parkinson externou sua mordacidade ao afirmar que
ninguém se preocupa em executar um trabalho em tempo menor do que o previsto
para sua execução. Nada científica, essa crítica ficou conhecida como “lei de
Parkinson”.
Work expands to filI the
time available for its completion
(“O trabalho expande-se na
exata medida do tempo disponível para ser feito.”)
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