Aspectos Sociais das Escolas de Administração e suas Concepções de Eficiência e Eficácia


Aspectos Sociais das Escolas de Administração e suasConcepções de Eficiência e Eficácia


LAKATOS, Eva Maria.
 Sociologia da Administração.São Paulo: Atlas.

Esta parte (Capítulo 2) fornece uma visão geral de como os administradores consideraram as empresas, ao longo do tempo, e os elementos humanos que as compõem, na procura de eficiência e eficácia em seu desempenho Dois enfoques principais caracterizam as diferentes “escolas”: o prescritivo e o explicativo, com pressupostos e características especificas. Independente de seu aparecimento em determinado período (cronologia), as escolas ainda exercem influencia na visão dos administradores sobre a empresa e seus recursos humanos.

2.1 INTRODUÇÃO: AS “ESCOLAS” DE ADMINISTRAÇÃO E OS CONCEITOS DE EFICIÊNCIA E EFICÁCIA

Aspectos de um sistema, os conceitos de eficiência e eficácia aplicavam-se, em princípio, aos objetos materiais que o constituíam e aos processos que nele se desenvolviam. Entretanto, se a empresa (inclusive como sistema) engloba, além dos indicados — objetos materiais e processos (métodos e técnicas) — as pessoas (indivíduos e grupos e a interação que entre si desenvolvem), a eficiência e a eficácia devem ser entendidas como correlação entre todos os elementos componentes da organização.
Dessa forma, o conceito de eficiência apresenta as seguintes características:
— quociente “ótimo” resultante da relação produto/insumo (output/input; entrada/saída);
— nessa relação, além do aspecto quantitativo, deve-se levar em consideração o qualitativo; quanto ao insumo, a quantificação consiste em considerá-lo em termos de custo;
— refere-se aos aspectos internos da organização, englobando todo o conjunto de métodos que torna o “retorno” rendoso, com especial destaque ao padrão de inter-relações entre os elementos do sistema;
— define-se era termos de “meios” utilizados pela organização para alcançar seus objetivos (metas).

Por sua vez, o conceito de eficácia abrange os seguintes aspectos:
— processo de tomada de decisões, visando à maximização do rendimento (eficiência) da organização, especificamente os subsistemas internos, medida em termos mais de produto do que de insumo. Quanto a esse último, deve obtê-lo na quantidade que necessite, em condições vantajosas;
— define-se em termos de “fins”, isto é, atingir os objetivos (metas) da organização;
— refere-se aos aspectos externos, ou seja, adaptação da organização ao ambiente externo (pois quando se preocupa com a manutenção subsistemas internos, o faz com a finalidade de otimização do relacionamento da organização, como um todo harmonismo e eficiente, com a sociedade).

Pelas características descritas para os conceitos de eficiência e eficácia, ficou claro que são extremamente interdependentes e inter-relacionados, apesar de diferenciados. Em outras palavras, é possível, se bem que raro, que uma organização seja eficaz, mas a um custo tal, que pode ser caracterizada de ineficiente; por outro lado, pode ser eficiente sem alcançar, pelo imperfeito relacionamento com o ambiente externo, um status de eficácia.
É importante assinalar que as diferentes “Escolas de Administração”, por utilizarem enfoques diversos na análise do elemento humano presente nas organizações, têm concepções variadas, com fundamento em seus pressupostos básicos, sobre eficiência e eficácia. Em conseqüência, os aspectos sociais de suas “diretrizes” se alteram, mudando, também, sua visão da interação empresa-recursos humanos.




















2.2 ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA


A Escola Científica, de Administração Científica ou Escola Clássica surge no início do século XX, preconizando a racionalidade do trabalho, para aumentar a eficiência e a eficácia das organizações, principalmente as de tipo industrial. Os fundadores e mais importantes autores desse movimento são Frederick Winslow Taylor, Princípios de administração científica (1995) e Henri Fayol, Administração industrial e geral (1916). Entre outros representantes da Escola Científica encontramos Frank e Lilian Gilberth, Os escritos dos Gilberths, Spriegel e Myers e Henry Gantt, Organizando para o trabalho (1919), contendo o famoso “Gráfico de Gantt”.

2.2.1 Frederick Winslow Taylor
TAYLOR 1856-1915

Tendo iniciado sua atividade como mestre em uma fábrica, antes de tornar-se engenheiro, Taylor sempre deu destaque ao procedimento experimental e à indução, em sua análise dos processos administrativos. Sua percepção de que na indústria a ineficiência “custa dinheiro” levou-o a postular a objetividade, ou seja:
a) selecionar e treinar os melhores trabalhadores para cada tarefa;
b) verificar os métodos mais eficientes e os movimentos mais econômicos para a realização da tarefa e instruir o trabalhador nessas práticas;
c) escolher os melhores operários e conceder-lhes, como incentivo, salários mais elevados (Brown, 1972:17).
No pensamento de Taylor, é fundamental o “conceito de especialização”, voltado à execução das funções, com eliminação de tudo o que é estranho e desvia a atenção da tarefa de cada um. Seus quatro grandes princípios de Administração podem ser assim sintetizados:
a) desenvolvimento de uma ciência de trabalho — utilizando-se a investigação científica pode-se determinar a capacidade total de um operário em um típico dia de trabalho. Em decorrência, os chefes terão uma base para a revisão de “quanto” se pode esperar de um trabalhador e este, o que dele se espera;
b) seleção e desenvolvimento científicos do empregado — cada operário, para atingir o nível de remuneração prevista, precisa “preencher certos requisitos pela seleção”;
c) combinação da ciência do trabalho com a seleção do pessoal — deve-se quebrar os velhos hábitos da administração, para que não haja resistência às inovações, e incentivar os operários dispostos a aprender “a fazer uni bom trabalho”;
d) cooperação entre administração e empregados — “somente uma constante e íntima cooperação possibilitará a observação e medida sistemática do trabalho, que permitirá a fixação de níveis de produção e de incentivos financeiros” (Lodi, 1981:31).



2.2.2 Henri Fayol
 
Henri Fayol
1841-1925
Ao contrário de Taylor, que iniciou suas atividades e realizou suas primeiras observações como um trabalhador, Fayol direcionou seus estudos e principiou suas ações na posição de dirigente, vendo a necessidade de organizar o pessoal das grandes empresas de modo racional, sob um prisma oposto. Seu método apoia-se na análise lógico-dedutiva, e ele é o autor da clássica divisão das funções do administrador em cinco elementos — planejar (ou prever), organizar, coordenar, comandar e controlar — assim discriminados:
a) planejar significa, ao mesmo tempo, “calcular o futuro e empregá-lo”;
b) organizar uma empresa é “dotá-la de tudo o que é útil a seu funcionamento: matérias-primas, utensílios, capitais e pessoal”;
c) coordenar é “estabelecer a harmonia entre todos os atos de uma empresa, de maneira a facilitar o seu funcionamento e o seu sucesso”;
d) comandar é “fazer funcionar o corpo social, constituinte da empresa”;
e) controlar consiste em “verificar se tudo corre de acordo com o programa adotado, as ordens dadas e os princípios admitidos” (Fayol, 1970: passim).
O ponto básico em que Fayol afasta-se completamente de Taylor (em geral, podemos dizer que Fayol complementa o esquema de Taylor com seus princípios) é o que diz respeito à supervisão do trabalhador: Taylor preconizou a “supervisão funcional”, significando que um “operário deveria ser controlado por diversos supervisores, cada um especializado num aspecto da tarefa do operário”, ao passo que, na concepção de Fayol, um dos princípios é a “unidade de comando”, significando que um operário deve receber ordens de um, e apenas um único superior, ou, em outras palavras, “uma pessoa deve ter apenas um chefe diante do qual ela é responsável” (Lodi, 1981:47).

2.2.3 Pressupostos da Administração Científica

Em primeiro lugar, a escola científica ou clássica considera a “organização” não no sentido de “sistema social”, mas como forma de se estruturar a empresa. Nesse sentido, a racionalização do trabalho produzirá bons resultados à medida que a empresa contar com uma adequada organização.
Um segundo ponto, referente à organização apropriada, considera como, primordial a divisão de tarefas, com dois aspectos complementares: o “objetivo” como critério de relacionamento entre elas e o controle centralizado e estrito sobre as mesmas.
O terceiro aspecto refere-se à estrutura da organização: nesta, são as tarefas que importam e não os indivíduos, ou seja, ao criar e planear uma estrutura, é a capacidade de desempenhar funções que deve presidir a “seleção” e “designação” de funcionários, independente, até, de seus eventuais problemas pessoais.
Como quarto item, temos aquele que defende o princípio de que a produtividade do operário está primordialmente relacionada com as condições no ambiente de trabalho e com as do próprio indivíduo: na primeira acepção, iluminação fraca, umidade excessiva, aquecimento inadequado e outros fatores materiais indesejados têm importância decisiva, ao lado do segundo aspecto, isto é, da fadiga — considerada  “um estado físico-químico do corpo, onde havia acúmulo de toxinas” (Brown, 1972:67) — e de movimentos dispendiosos e ineficientes. Este modo de pensar dá origem ao Estudo de Tempos e Movimentos, à Engenharia Industrial e à Organização e Métodos.
Por último, é esta escola que defende a denominada “hipótese da gentalha” ou “hipótese do populacho”, que, em tom de crítica, foi descrita por Elton Mayo (fundador da Escola de Relações Humanas), nos seguintes termos:
a) a sociedade natural consiste numa horda de indivíduos (e, portanto, de elementos não organizados);
b) cada indivíduo age de forma calculada, tendo por finalidade assegurar sua preservação e de seus próprios interesses;
c) todo indivíduo pensa logicamente, o melhor que pode e empregando ao máximo suas faculdades, para a consecução desses seus objetivos (apud Brown, 1972:73).

2.2.4 Características da Administração Científica

As características básicas da escola científica repousam nos conceitos de:
a) homo oeconomicus, isto é, o homem como ser eminentemente racional, tomando decisões baseadas no conhecimento dos vários caminhos que se lhe apresentam, assim como das consequências advindas de qualquer ação, tendo a possibilidade não só de escolher a melhor alternativa, como de maximizar os resultados de sua opção, que se faria em termos de “lucro”; portanto, seus valores seriam econômicos;
b) produção-padrão, ou seja, a existência de uma única maneira certa de realizar qualquer tarefa que, descoberta por intermédio de estudos de “tempo e movimento”, maximizará a eficiência do trabalho;
c) incentivo monetário, isto é, a ideia de que o melhor incentivo para alcançar a produção-padrão seria o econômico, através do pagamento por peça, do bônus por produtividade etc.

2.2.5 Conceitos de Eficiência e Eficácia

Para a Escola Científica, o conceito de eficiência encontra-se fundamentado na divisão do trabalho, agrupamento das tarefas por semelhança de objetivos, centralização das decisões, controle cerrado e organização formal com estrutura “ideal”. Especificamente:
a) determinar os objetivos mais gerais e deles deduzir uma especificação detalhada do trabalho a ser realizado;
b) criar uma pirâmide, agrupando as atividades em seções, as seções em departamentos e, por fim, unidades administrativas mais altas;
c) delegar autoridade, sem perder a centralização no âmbito das decisões gerais;
d) tornar específico o encargo ou a responsabilidade pelo desempenho, mantendo um controle cerrado e completo;
e) estabelecer relações predominantemente formais entre os empregados, de maneira que cada um deles conheça sua posição específica na equipe (O’Shaughnessy, 1981: 27).
Por sua vez, o conceito de eficácia repousa na correlação entre um plano de ação, que leve em consideração fatores internos e, raramente, para os autores dessa Escola, externos (já que sua visão da empresa tendia para um sistema fechado), e sua execução, salientando os objetivos, os recursos humanos e materiais e os requisitos da organização. O plano de ação deve fundamentar-se:
a) sobre os recursos da empresa, que incluem: imóveis, maquinaria, matérias-primas, capital, pessoal, capacidade de produção, mercados, relações sociais e outros;
b) sobre a natureza e a importância das operações realizadas;
c) sobre as possibilidades futuras da associação, possibilidades estas que dependem, em parte, das condições de desenvolvimento técnico, sendo impossível determinar, de antemão, sua futura importância e o momento de sua utilização, pois encontram-se sujeitas a mudanças (Fayol, 1970:65).

2.3 ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS

2.3.1 Pesquisas de Mayo e suas conclusões
2.3.2 Características da escola de relações humanas
2.3.3 Conceitos de eficiência e eficácia

2.4 EFICIÊNCIA E EFICÁCIA NAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA E DE RELAÇÕES HUMANAS

2.4.1 Quadro comparativo das escolas de enfoque prescritivo





2.5 O BEHAVIORISMO

2.5.1 Teorias "X" e "Y"
2.5.2 Características do behaviorismo
2.5.3 Conceitos de eficiência e eficácia
2.5.4 Chester Barnard
2.5.5 Herbert Simon

2.6 O ESTRUTURALISMO

2.6.1 Características do estruturalismo
2.6.2 Conceitos de eficiência e eficácia
2.6.3 Peter F. Drucker

2.7 ABORDAGEM DE SISTEMAS ABERTOS

2.7.1 Características de sistemas abertos
2.7.2 George Homans
2.7.3 Douglas McGregor
2.7.4 Homem funcional
2.7.5 James A. C. Brown
2.7.6 Conceitos de eficiência e eficácia

2.8 ESCOLAS DE ENFOQUE EXPLICATIVO

2.9 QUADRO COMPARATIVO DAS ESCOLAS DE ENFOQUE EXPLICATIVO


Texto adaptado para fins didáticos.






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